Realmente, os tempos mudaram e a maneira como medimos o sucesso de uma música também evoluiu. Antigamente, a quantidade de cópias vendidas era o principal indicador de sucesso, mas hoje em dia, as visualizações nas plataformas digitais assumiram esse papel.
O alcance tão grande das músicas na atualidade se deve a vários fatores. Um deles é a interação entre as mídias sociais e as plataformas de streaming, que possibilita uma maior exposição dos artistas e suas músicas. Através das redes sociais, os fãs compartilham e discutem suas preferências musicais, o que, por sua vez, incentiva outras pessoas a ouvirem e apoiarem os artistas. Outro fator que contribui para esse crescimento exponencial é a dinâmica da internet. Os algoritmos das plataformas digitais são capazes de identificar os gostos dos usuários e sugerir músicas que se encaixem em seus perfis. Dessa forma, os artistas conseguem alcançar um público mais amplo e diversificado. Além disso, a interação entre comunidades de fãs e criadores de conteúdo também ajuda a expandir o alcance das músicas e a longevidade dos hits.
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O YouTube se tornou um tipo de multiverso musical, onde os usuários podem descobrir novos artistas, assistir a videoclipes e até mesmo acompanhar a trajetória dos músicos por meio de documentários e entrevistas. Portanto, o sucesso de uma música atualmente está muito mais atrelado à sua presença no ambiente digital do que ao número de cópias físicas vendidas. As plataformas de streaming e as mídias sociais são as grandes responsáveis por essa mudança na forma como o sucesso musical é mensurado e alcançado.
Nesse multiverso, a criação e a socialização vão além dos artistas e gravadoras tradicionais, dando espaço para o desenvolvimento de um ecossistema completo de criadores de conteúdo. Videoclipes, apresentações ao vivo, covers, análises, curiosidades, tutoriais, coreografias, paródias e remixes expandem e extrapolam os limites das músicas. Ao mesmo tempo, proporcionam aos fãs a chance de serem coautores do sucesso de seus ídolos.
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Essa é a temática da nova edição do YouTube Vibes, intitulada “Música ao Infinito”, um estudo que explora as possibilidades da música por meio da livre circulação de conteúdos gerados pelos usuários. A pesquisa, resultado de uma parceria entre a float e o YouTube, ilumina as diversas experiências musicais e debate como a reinterpretação dos sucessos pode impulsionar o crescimento de todo um ecossistema. O YouTube Vibes é um relatório trimestral que se aprofunda em questões relacionadas aos vídeos online e à cultura em torno desse universo.
Vibe 1: Descentralização musical – a força da música está na comunidade
Se na década de 1980 o talento emergia de cima para baixo – dos executivos das gravadoras para os ouvintes -, a década de 2020 inverteu essa lógica, com os fãs liderando a tomada de decisões. Um bom exemplo dessa descentralização musical é como o K-pop vem adotando a linguagem das fancams (vídeos filmados e editados pelos fãs, focados nos membros dos grupos) e dos challenges (vídeos que mostram pessoas realizando diversos desafios). Com potencial de bilhões de visualizações, muitas gravadoras e artistas incorporam esses registros amadores em seu conteúdo oficial. Assim, os fãs também se tornam criadores.
Sempre que uma música alcança grande sucesso, por exemplo, uma onda de covers surge quase que instantaneamente. Não se trata apenas de reproduzir a obra original, mas de retrucá-la – um formato que tem gerado hits-resposta, como este do criador TINN, em que Pedrinho apresenta seu ponto de vista na narrativa de “Acorda Pedrinho”, da banda Jovem Dionísio. Dessa forma, um cover não é mais “apenas” uma homenagem, mas também um convite ao diálogo, alterando o ponto de vista da narrativa e provocando novas interpretações para uma canção.
As cocriações, no entanto, não ocorrem apenas com novas letras ou versões. O criador Raphael Vicente, por exemplo, obteve enorme sucesso ao desenvolver uma coreografia para “Waka Waka”, de Shakira, e gravar um clipe na favela da Maré, no Rio de Janeiro, onde mora. O vídeo, com mais de 238 mil visualizações, chamou a atenção da cantora colombiana, que o compartilhou em suas redes sociais.
Quando a criatividade dos fãs mais engajados passa a ser finalmente reconhecida, a indústria da música se aproxima da dinâmica criada pela indústria dos games, que coloca a comunidade no centro. Surge um novo espaço onde criadores e fanbases são tratados como impulsionadores de uma obra ou incubadoras de inovação. E em tempos de descentralização musical, é importante não subestimar o poder criativo dos fãs engajados.
O canal “No Banheiro da Festa”, por exemplo, apresenta uma variedade de versões de músicas com o áudio editado para criar a impressão de que você está em uma balada, mais especificamente, no banheiro da festa.
Essa abordagem criativa e inovadora tem atraído a atenção de muitos usuários que buscam uma experiência musical diferente e imersiva no YouTube. Ao simular o som ambiente de uma festa, o canal proporciona aos ouvintes a sensação de estarem em um evento social, mesmo estando em casa ou em outros locais.
Além de oferecer uma forma única de apreciar as músicas, o canal “No Banheiro da Festa” também se destaca por trazer uma nova perspectiva sobre a experiência de ouvir música. Ao explorar essa ideia de imersão no som, o canal consegue evocar memórias e sentimentos nostálgicos, fazendo com que os ouvintes se sintam parte de uma celebração compartilhada, mesmo à distância.
Vibe 2: Transes sonoros – nostalgia musical e seus efeitos envolventes
Se antes os gêneros musicais definiam a personalidade e o estilo de alguém, hoje o gosto sonoro é mais um efeito ambiental, uma vibe. Em teoria, a abundância de artistas na era do streaming ampliou também nosso vocabulário musical, permitindo que encontremos o som perfeito para cada estado mental que desejamos vivenciar e alcançar.
Relaxar, sobreviver a uma segunda-feira, dissociar da realidade, sentir tudo mais intensamente. Em transes sonoros, a juventude desenvolve combinações cada vez mais refinadas e complexas para experimentar os mais variados estados psicoemocionais e inspirar sentimentos específicos, como a nostalgia. A música passa a ser, portanto, uma linguagem para criar experiências, interações e novas emoções junto aos consumidores.
Vibe 3 Batida das ruas – vibrando a cultura da espontaneidade rítmica
Paredões automotivos, rodas de samba, batalhas de rima, bailes de voguing, serestas… São muitas as expressões musicais que trazem uma conexão com a cultura local, popular, bairrista, periférica, representativa e ancestral. Após dois anos de isolamento, o interesse por esses sons está vibrando com mais intensidade e reflete orgulho identitário, laços sociais e históricos.
No entanto, essas manifestações estão mais presentes nas ruas, na vivência cotidiana, e não é comum termos acesso a elas na maioria das plataformas de streaming de música. E não é por acaso: a energia dos artistas e do público nesses eventos vem exatamente das rimas e beats que são feitos ao vivo. Por isso, lives e registros amadores têm ampliado essa mistura de tensão e encantamento, espontaneidade e possibilidades criativas que antes só estavam disponíveis pessoalmente.
Compartilhar é fundamental, pois não se pode ouvir maracatu, por exemplo, sem também mergulhar no contexto, na dança, nos rituais, na estética e no universo do ritmo.
No YouTube, canais como o de Raffael Ribeiro oferecem a oportunidade de conhecer grupos como o Maracatu Cambinda Brasileira, uma agremiação tradicional de Nazaré da Mata, Pernambuco. Em seu canal, Raffael divulga músicas, festas e as danças dos caboclos.
Essa plataforma de compartilhamento de vídeos permite que as manifestações culturais locais e tradicionais, como o Maracatu Cambinda Brasileira, sejam apresentadas a um público mais amplo e diversificado. Dessa forma, pessoas de diferentes lugares e culturas podem ter acesso a essas expressões artísticas e aprender mais sobre a riqueza e diversidade cultural do Brasil.
Conclusão
A música atravessa uma fase revolucionária, impulsionada pela internet e pelas plataformas digitais, como o YouTube. O sucesso e a popularidade das músicas não se medem mais apenas pelas cópias físicas vendidas, mas pela presença e engajamento no ambiente digital. A música se tornou um fenômeno multifacetado, envolvendo não apenas artistas e gravadoras, mas também fãs e criadores de conteúdo, que juntos constroem um ecossistema completo e dinâmico.
As três “vibes” apresentadas neste artigo, “Descentralização musical”, “Transes sonoros” e “Batida das ruas”, demonstram a diversidade de experiências e o potencial ilimitado que a música oferece nos tempos atuais. Com o auxílio do YouTube e outras plataformas digitais, a música transcende fronteiras e alcança públicos de diferentes origens e preferências, fortalecendo a conexão entre artistas e fãs, e permitindo a criação de novas narrativas e experiências.
O cenário musical se reinventa constantemente, e a internet tem sido um catalisador dessa transformação. Cabe a nós, como ouvintes e consumidores, apoiar e celebrar essa diversidade e criatividade, e continuar explorando o infinito universo musical que se apresenta diante de nós.
Fonte: Google/Offerwise, Brasil, Estudo YouTube Vibes Music n=1,000 A18-64 GenPop video users, Pesquisa realizada em Janeiro, 2023.